GESTÃO INTEGRADA DA CADEIA DE ABASTECIMENTO

Paulo Roberto Bertaglia

A Gestão integrada da Cadeia de Abastecimento representa um importante desafio uma vez que sugere a interconectividade e o inter-relacionamento entre as diversas áreas internas da organização. Este desafio é aumentado à medida que se considera o ecossistema externo como parte deste conceito. Para as empresas, até então lutando com seus princípios internos em que as áreas são caracterizadas por silos, atuando de forma totalmente separadas e independentes, onde cada departamento possui suas métricas próprias, exigir que trabalhem integradas e adicionalmente expandir esta integração para o mercado, vem a ser um desafio extremamente importante e difícil de ser superado.
Contudo, para se conseguir êxito no relacionamento e serviço ao cliente, os processos de negócio necessitam ser administrados de maneira integrada desde o início da cadeia até o cliente consumidor.

VISIBILIDADE
A gestão integrada da cadeia de abastecimento permite visibilidade total dos processos permitindo que os níveis de serviço aos clientes sejam medidos e que as necessidades dos clientes sejam atendidas. Este procedimento requer que os administradores e líderes deixem de pensar em termos de silos funcionais e foquem o valor que podem criar através da organização. E mais além, estes mesmos profissionais devem ter uma visão mais ampla, mais externa e visualizar a cadeia com elementos organizacionais que correspondam a um ecossistema onde empresas se integram e se conectam para aperfeiçoar a cadeia de abastecimento.

ATENDIMENTO
O cliente é o ator que gera os aspectos econômicos e financeiros da organização, possibilitando com isso remunerar funcionários e pagar os componentes adquiridos de fornecedores. No caso de não se oferecer produtos e serviços com qualidade a um preço competitivo, este cliente vai deixar de comprar. Um cliente insatisfeito, independentemente de segmento de negócio, é uma ameaça para qualquer organização. A imagem ruim pode ser espalhada facilmente, principalmente com o uso da Internet. Organizações podem ser destruídas da noite para o dia através de publicidade negativa e recuperar a imagem, quando possível, exige investimentos extremamente elevados.
Desta maneira, uma empresa necessita levar muito a sério o atendimento aos clientes e ouvir o que eles têm a dizer, para aprimorar o produto e/ou serviço, e mais que isso analisar internamente se as funções estão adequadas e integradas consistentemente para atender à demanda.
Os clientes, atualmente, possuem muitas alternativas e oportunidades de potenciais fornecedores e, portanto, mudar de um fornecedor para outro é algo que pode ser feito de maneira muito rápida.
A lealdade do cliente é assegurada não apenas com processos bem estruturados, mas cada pessoa na organização deve estar focada em entregar valor ao cliente.
A gestão integrada passa pela preparação de cada funcionário, independentemente da função ou posição assumida. Administrar a organização de forma integrada corresponde a entender as debilidades e as necessidades, no âmbito estrutural e os requerimentos das pessoas para alcançar os objetivos estratégicos. Se o cliente é importante imagine o colaborador interno!

INTEGRAÇÃO DE PROCESSOS
À nossa volta, diariamente vivemos e respiramos a cadeia de abastecimento. Consideremos por exemplo, a compra do pãozinho na mercearia mais próxima. Os ingredientes para produzir este pãozinho vêm de vários lugares, geograficamente dispersos.
O trigo, ingrediente importante na elaboração do produto, é cultivado pelo agricultor e posteriormente é transformado em farinha por um fabricante. A partir daí é comercializado com as padarias para converter esta matéria prima em produtos finais – os pãezinhos – com diferentes tamanhos e sabores. Embora um exemplo bastante simples, é fundamental o entendimento dos processos para preencher as necessidades finais dos clientes. Desta maneira, processos bem desenhados, desde a obtenção da matéria prima junto ao agricultor, a sua transformação em farinha, posterior transformação em pãozinho e venda ao consumidor, são elementos importantes na integração da cadeia de abastecimento.
A gestão integrada da Cadeia de abastecimento deve levar em consideração todos os elementos de processos, pois se isto não ocorrer o consumidor pode não ter o pãozinho para preencher as suas necessidades diárias e evidentemente irá comprar da padaria mais próxima.
O exemplo evidencia o claro relacionamento entre fornecedores e consumidores, amparados pelos processos de negócios. Toda a cadeia abrange atividades de planejar, comprar, fabricar e distribuir e os serviços pós-venda para grande parte dos produtos, como é o caso principalmente de automóveis e eletrônicos.

MELHORES PRÁTICAS E DESEMPENHO FINANCEIRO
Já foi evidenciado que existe uma forte relação entre o desempenho financeiro das organizações e a utilização de melhores práticas na cadeia de abastecimento, entre elas a preocupação em se ter uma gestão integrada da cadeia levando em conta os seus vários aspectos desde a obtenção até a distribuição. Uma conclusão lógica é que profissionais dedicados às estratégias e processos da Cadeia de abastecimento, dentro de um escopo integrado, são exímios administradores de indicadores também financeiros como é o caso de giro de estoques, custos de produtos vendidos e retorno em ativos entre outros, e não apenas preocupados com prazos de entrega e quantidades de estoque, ainda que também importantes.
A empresa espanhola Zara, internacionalmente conhecida no segmento de produção e distribuição de roupas e também presente no Brasil, conseguiu que seu processo de lançamento de estilo de moda passasse de cinco meses para algo ao redor de três a seis semanas através do uso de tecnologia, onde obtém informações de seus clientes através de coletores as quais são enviadas para seus projetistas de moda.
Das experiências obtidas através dos anos pode-se concluir que aquelas organizações que melhor desempenham financeiramente possuem um comportamento extremamente positivo em relação à integração de seus processos na Cadeia de Abastecimento.
Isto se verifica principalmente devido ao fato de que possuem um giro de estoque mais rápido e uma velocidade na resposta aos clientes compatível com as suas demandas. Adicionalmente a estes pontos, estas organizações possuem habilidade em se adaptar às frequentes mudanças que os negócios vêm exigindo através da padronização de seus processos organizacionais.
No segmento automotivo o advento da manufatura dita “enxuta” ou “Lean Manufacturing” tem permitido avanços significativos uma vez que deixam os processos mais adequados, limpos e rápidos, buscando priorizar os elementos que agregam valor à cadeia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os comportamentos organizacionais provenientes de grandes organizações com atenção especial na Cadeia de abastecimento como Toyota e Zara para citar algumas mostram a importância dos elementos que direcionam a Cadeia de Abastecimento, sejam os processos propriamente dito, assim como as tecnologias que os suportam.
Na gestão da Cadeia é fundamental ter conhecimento destes elementos que direcionam e afetam o comportamento da cadeia possibilitando um melhor ou pior nível de serviço e por decorrência impactando o desempenho financeiro da empresa.

Até a próxima. Que a força esteja conosco.

 

Paulo Roberto Bertaglia
• Fundador e Diretor Executivo da Berthas (www.berthas.com.br), atuou nas empresas: IBM, Unilever, Hewlett-Packard e Oracle. Ao longo da carreira tem se especializado nas áreas de Supply Chain Management, Gestão estratégica de Negócios, Liderança, Vendas e Terceirização de Serviços. Professor de pós-graduação em Logística, Gestão Estratégica de Negócios e Tecnologia da Informação.
• Autor de vários livros entre eles Logística e Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento – Editora Saraiva, 3ª edição – 2016
• Realiza palestras de temas estratégicos, cadeia de abastecimento e liderança empresarial para empresas e instituições educacionais em todo o território nacional.